Crônicas de Valinhos – As Damas e os Vagabundos
OsKarteiro é um campeonato realmente diferenciado em sua essência, partimos da sua gênesis que surgiu do interesse estranho de amigos em gastar dinheiro com carrinhos com motor de moedor de cana que corriam em pistas improvisadas nos estacionamentos dos shoppings da Grande São Paulo.
Uma década e meia depois tivemos a nossa primeira corrida feminina, não que antes não tivéssemos mulheres correndo, porém, uma bateria formada somente pelas mais distintas damas da sociedade paulistana ainda não havia ocorrido sobre a batuta de Ricardo Bunnyman, mais conhecido nas lavouras de algodão doce das praças das Igrejas da Zona Sul de São Paulo como Sr. PPT.
Mulheres estas que sempre tiveram um valor imensurável uma vez que concediam alvarás aos seus remelentos maridos, filhos, companheiros ou até mesmo ao pai que optou pelo kart do que fascinante mundo do mergulho noturno em aquários de shopping.
Damas que me chamaram atenção quando da minha primeira participação no campeonato, quando corri na última corrida da temporada de 2018, no templo sagrado porém violado do Kartódromo Ayrton Senna em Interlagos; quando torciam por seus pares em coros que davam inveja a qualquer torcida organizada de um time futebol, vantagem sobre a torcida de futebol que não havia violência, havia amor e companheirismo!
Assim, voltando a corrida do último sábado, vimos a realização e o resultado de inúmeras conversas e discussões que se desenvolveram em um grupo de conhecimento geral, porém secreto de mulheres que desejavam sentir o mesmo prazer em conduzir um kart.
Na mesma linha temporal, os nobres membros do OsKarteiro se juntavam para mais uma empreitada, uma prova de Endurance, uma prova diferente para muitos, poucos já haviam provado do doce veneno de uma prova de resistência como esta.
Muitos duvidavam, poucos acreditavam, inúmeros não colocaram fé na realização do evento, os poucos que apostaram as suas fichas na realização da prova, são os que mais lucraram, estes saíram de Valinhos com os bolsos cheios de lembranças e muitas histórias para contar nos coretos e balcões das padocas entre uma tubaína e um delicioso torresmo saudita.
O que se seguiu no sábado será melhor tratado nos posts sobre as corridas, porém aqui devo me prologar em alguns pontos que eu tive a felicidade de ver e que eu sei que será sempre lembrado por mim, mesmo quando na minha velhice e minha mente já esteja nublada pelas lembranças de uma vida pregressa e pagã; contudo será resgatado entre uma tragada e outra no meu cachimbo de salgueiro e um gole de whiskey, bourbon e ou scotch, sem dosar é claro e me perguntarem se mesmo depois de tanto eu me recordo daquele sábado, dia 13 de julho de 2019 eu vou responder “always”.
Primeiro, a escolha, a tensão da escolha, a indecisão, a demora, alguns pilotos de ponta sendo deixados de lado de forma inexplicável e a alegria de conseguir escolher um amigo para dividir as emoções que estavam por vim, foi algo jamais saboreado por muitos que tiveram a honra de escolher os seus pares.
Depois, vieram as conversas e tramas, estratégias sendo traçadas e tentativas de se esquivar da responsabilidade de fazer o quali e até mesmo de realizar a última e mais importante parte da prova, porém todos estavam animados.
Bom, sobre os preparativos das mulheres pouco se sabia, porém que a animação entre elas era igual ou maior ainda, todos podiam apostar as suas economias contidas em porquinhos de louças chinesas de arte portuguesa.
Depois de todos os pontos fechados pela egrégia diretoria, chegamos ao famigerado Kart Itália onde seriam realizadas as duas pelejas.
As Damas e os seus Vagabundos de estimação já estavam com os níveis de adrenalina acima do recomendado por qualquer cardiologista que já tenha frequentado o Setor A de Interlagos.
Pulando já para a corrida das mulheres, que satisfação em vê-las felizes e plenas com o feito que estavam a realizar. Fiquei feliz por presenciar algo tão grande.
Antes da largada já com os karts alinhados tivemos até uma cena estranha, um certo piloto da Master que ao gosto dele queria orientar a sua esposa no momento que pertencia apenas a ela, bem como, aposto vintinho casado no chão, como caiu por terra o seu papo mole ao ver os seus companheiros Vagabundos babacas bococas balbuciando em bando junto a grade tirando com a cara dele, foi totalmente excelente, parabéns aos envolvidos.
Da corrida como dito será tratada em outra oportunidade, porém o espetáculo do pós corrida eu posso falar agora, como foi apaixonante, ver as mulheres felizes e radiantes após a corrida, unidas não pela competividade da prova e sim por terem suprimido medos e temores, preconceitos dos mais variados que elas enfrentam caladas todos os dias, uma vitória de todas.
A festa do pódio delas foi um tapa na cara dos meus caros companheiros que nem se quer se dão ao trabalho de aguardar a nossa festa nas corridas regulares do campeonato, saber que elas vão continuar com o grupo e que pretendem correr quantos vezes mais for do interesse e vontade delas me deixa muito feliz e otimista com o futuro da nossa família de sobrenome OsKarteiro.
Já na prova masculina, foi uma satisfação ter participado, apesar de ter mais errado que acertado… não na verdade acertei mais que errei… um relato pessoal agora, pois acertei em cheio em escolher o Meira e Vilela para equipe, pilotos de coração enorme que em nenhum momento por eu ser um dos piores piloto do grid da Light me reduziram a um caco de pessoa, na verdade me trataram como igual, uma felicidade que guardo com muito amor em uma semana que me pesa muito no coração.
Pelo combinado eu faria a última perna da corrida, assim eu tive a satisfação de assistir a largada de perto e de ver pela primeira vez Caio, Cebola e Paro disputando como iguais posições do grid, desde o começo do ano essa era uma ilusão que nunca foi ventilada em nossas conversas, que ainda em 2019 veríamos deles se digladiando em pista vestidos com o manto sagrado do nosso campeonato, que corrida e que sábado meus amigos, ver os grandes e pequenos, os rápidos da Master e os ponteiros da Light disputando posições com aqueles que queriam provar o seu valor, apesar da pouca prática e velocidade empregada em seus kart, uma sábado para se guardar eternamente.
Fiquei mais contente ainda quando em pista vi que estava dividindo posições com Bunnyman e Cássio, Mestre Flávio e outros tão queridos da Master que eu só assistia e me perguntava quando eu iria ter o prazer de correr contra eles e eu tive, algo que ninguém ousará de remover da minha mente já marcada a ferro e fogo de Ûdun!
Assim fecho a minha crônica com um agradecimento especial a todas e todos, as crianças que abrilhantaram o nosso sábado ao ver a sua mãe e seu pai dividindo a mesma paixão, amigos descartado as diferenças técnicas para dar lugar a diversão e festa da amizade comum entre todos, como eu faço nos meus raros posts, eu sempre gosto de indicar uma música, aqui deixo para vocês a música recém lançada pela vocalista dos Alabama Shakes, a cantora Brittany Howard, fiquem com Stay High e até a próxima.